o coral do céu ganhou mais um anjo

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Filosofia Do Gato

Nesse nosso pais tudo que vem em prol da massa sofre preconceito tanto do lado pobre quanto do lado da elite..Infelizmente vivendo em um pais que ser padeiro virou sinônimo de queimar rosca e Silvio Santos vende sonhos sem ter nunca possuído uma padaria

Paulo Cesar Januaria - in Gato Vadio

Sifudeu otário, mexe com o gordinho kkk

segunda-feira, 12 de março de 2012

O grão de trigo

Germinacao do trigo
Num dia de outono, triste e frio, saiu um homem a semear. Levando no braço esquerdo o saco de grãos, caminhava lentamente. A cada passo lançava um dos grãos — belo trigo, sadio e redondo — e os grãos caíam, rolavam e se escondiam na terra negra e arejada.

Aconteceu que um grão de trigo se achou de repente sozinho, entre dois torrões de terra preta e úmida. E o grãozinho ficou muito, muito triste. Tudo estava escuro e úmido, e a escuridão e a umidade aumentavam cada vez mais, pois o nevoeiro se transformara numa chuvinha enfadonha, ao aproximar-se a noite. Dava à gente vontade de se entregar ao desespero.

E foi o que fez o grãozinho de trigo. Começou a esquadrinhar a memória, procurando lembrar-se dos bons tempos que haviam ficado para trás.

Trigal, Franca.Pensou nos dias em que ele se elevava numa esbelta espiga, acariciado pelo sol, embalado ao vento, sentindo-se tão bem como uma criança nos braços da mãe. Todo o enorme trigal verde-acinzentado estava cheio de altivas espigas, e lá em cima, no céu azul, resplandecia o sol, e as cotovias cantavam desde o romper do dia até o anoitecer. E quando o sol se punha, não ficava tudo frio e úmido como agora, mas um suave orvalho descia, como uma onda refrescante, sobre o grão aquecido pelo sol. E uma grande lua, toda de ouro, brilhava docemente sobre as plantações que amadureciam. Era o bom tempo!

Mas chegara o dia terrível em que a foice sibilou pelos campos, e com um som roufenho abriu caminho através das espigas. Depois dela vieram os segadores com seus ancinhos, e as espigas foram amarradas em feixes e amontoadas nas carroças. O trigal se assemelhava agora a um campo de batalha, do qual continuamente as ambulâncias retiravam os mortos e feridos.

E chegara ainda o dia mais terrível em que, para a debulha, o mangual dançou sobre o grão dourado, estendido na eira, batendo-o sem piedade, com o furor de um soldado que luta às cegas. Dispersaram-se as espigas — estas pequenas famílias de grãos reunidos desde a mais tenra infância — e os grãos isolados voaram cada um para o seu lado.

No saco de grãos, em todo caso, ainda se encontravam em sociedade. Mas agora era o abandono completo, a triste solidão, a destruição certa.

No dia seguinte a grade passou sobre o campo, e nosso grão de trigo se viu em trevas ainda mais espessas, com terra por cima dele, terra por baixo, terra por todos os lados. E a umidade continuou. O grãozinho se sentiu bem doente. Compreendeu que qualquer coisa se quebrava e fermentava dentro dele. Por toda parte a água o encharcava, e não havia um só cantinho seco em suas entranhas. Parecia estar à morte.

Enviou então um último pensamento, uma última saudade cheia de melancolia, ao tempo ensolarado de sua vida, e murmurou esta queixa:
— Oh! Por que fui eu criado, se devia terminar de maneira tão horrível? Teria sido muito melhor para mim se jamais tivesse conhecido a luz do sol.

Então, a este pobre ser abandonado fez-se ouvir uma voz, uma voz que parecia vir do interior da terra:
— Não tenhas medo, não perecerás. Abandona-te com confiança e de bom grado, e eu te prometo uma vida melhor. Morre, pois é esta a minha vontade, e tu viverás.
— Quem sois vós que me falais? — perguntou o grão de trigo, enquanto o invadia um grande sentimento de respeito, pois a voz parecia falar a toda a terra, e mesmo ao universo inteiro.
— Eu sou aquele que te criou, e que agora te quer criar de novo.

Então o pobre grão de trigo, que morria, abandonou-se à vontade de seu Criador, e não mais se preocupou consigo.

CustodiaNuma manhã de primavera, um rebentozinho verde enfiou a cabeça para fora da terra úmida. O sol brilhava. Da terra aquecida se desprendia um calor gostoso. E lá em cima, no ar azulado, cantava um bando incalculável de cotovias.

O grão de trigo — pois quem mais poderia ser aquele rebento verde? — olhou ao derredor, com grande alvoroço. Tinha de fato voltado à vida.

Tornava a ver o sol e a ouvir cantar as cotovias. E não estava só, pois em todo o campo via outros brotinhos verdes, um exército inteiro, e neles reconheceu seus irmãos e suas irmãs.

Então a jovem planta se sentiu tão cheia de alegria de viver, que lhe pareceu um dever de gratidão elevar-se até o céu e acariciá-lo com suas folhas. E era como se a mesma alegria reconhecida tivesse dado asas às cotovias que se elevavam nos ares. Seu canto se tornava mais claro e mais puro, à medida que subiam.

E uma voz, que desta vez não vinha de dentro da terra, mas do alto, disse:
— Se o grão de trigo não morrer depois de lançado à terra, nada produzirá. Mas se morrer, produzirá muito fruto.


(G. Delcuve SJ e A. de Marneffe SJ, "Testemunhas de Cristo" - Companhia Editora Nacional, SP, 1951)

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